Prólogo do autor
Coisas estranhas acontecem na Rua Aleph, dizem. Lá, os mortos teimam em andar, dizem. Ela fica no bairro do Enforcamento, um dos mais perigosos da periferia de Bethlehem, mas que, por ter suas mal iluminadas e enlameadas ruas bordeando a
única via de saída e acesso à cidade, é uma passagem obrigatória.
Bethlehem, na verdade, é apenas uma cidadezinha esquecida por Deus, se é que Ele algum dia tomou conhecimento de sua existência. Uma semi-metrópole que nasceu, cresceu e se desenvolveu de maneira caótica em meio ao nada. Lá, ocorreu ocaso do senhor Eleazar da Silva, que já teve outros nomes.
Acho que foi em 2008 que minha esposa me mostrou uma matéria de jornal detalhando os infortúnios desse senhor. Pensei que poderia reescrever essa história adicionando outros elementos, ficcionais, imaginativos, ou nem tanto.
Sou dado a ideias fixas. Incubei esta por sete anos, até que em 2015, enfim, esbocei as primeiras linhas d’O Irressuscitado, que já teve outros nomes. Então foram quase dois anos de uma escrita vagarosa e intermitente, de horas vagas, até que enfim consegui finalizar a narrativa do Eleazar e dos outros personagens que em breve conhecerás. Estes, vale frisar, nunca tiveram nome algum, ou porque nomes não importam, ou porque alguns nomes não podem ser pronunciados.
No mais, peço sua paciência diante deste texto chato, sem amores arrebatadores, peripécias espetaculares, erotismo picante, ou qualquer outra coisa que agrade ao leitor. No entanto, já que chegaste até aqui, invito-o a ir até o fim, quem sabe o que pode encontrar pelo caminho.
Resenha
Eleazar é dado como morto, mas está vivo.
Uma situação curiosa, que através da narrativa muito fluída do autor, faz com que o leitor acompanhe a novela de uma vez só. Sem tempo para respirar, ou menos se acomodar melhor na cadeira enquanto acompanhamos o desconforto vivido por Eleazar.
Com o desenrolar da situação, o leitor tem a oportunidade de refletir sobre alguns problemas bem reais, que parecem tão irreais quanto a suposta morte do personagem. São eles o sistema de saúde, os labirintos burocráticos e jurídicos e até mesmo o papel da imprensa e da igreja na vida das pessoas.
O completo nonsense, que em meio ao caos das instituições, se torna algo perfeitamente normal. Tive a impressão ao ler o livro que a suposta morte do personagem não foi o que me causou maior estranhamento, e sim todo o resto considerado “normal” por todos nós. Vivemos em tempos que situações absurdas são encaradas com tanta naturalidade, que um homem que foi dado como morto, mas está vivo e percorrendo tortuosos caminhos para provar isso, pode ser encarado melhor do que os personagens que desempenham papeis normais na sociedade.
Não falarei de alguns paralelos que a intertextualidade permite traçar, pois falo do livro como um leitor leigo, mas para quem já teve oportunidade de ler A Metamorfose de Kafka, digo apenas que o nossa literatura paraense consegue expandir ainda mais o sentimento de angústia e de perplexidade ao narrar os acontecimentos vividos por Eleazar, por isso recomendo o livro a leitores que queiram passar algumas horas imersos em um labirinto de reflexões que não garanto que encontrarão a saída ao final do livro.
p.s. (Agora mais de 24 horas que terminei de ler o livro, ainda estou reflexivo…)
Para saber mais sobre o livro:
http://www.editorakazua.net/catalogo/o-irressuscitado-de-francisco-ewerton
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