Às vezes as mangas caem dos galhos, ainda verdes, amassam carros ou na cabeça de pessoas desavisadas, rolam de lado a outro, não amadurecem…
Um cruzamento qualquer de Belém, sinal amarelo, alerta para o menino na calçada, que pega seus malabares, corre para a faixa, atira um para o alto, e inicia um ciclo de alto e baixo. Alguns motoristas falam no celular, ocupados, mas o show tem que continuar, finalmente o menino faz uma reverencia, anda apressado em direção aos carros, nenhum vidro se abaixa. O sinal se abre, os carros seguem apressados, o menino volta para a calçada andando por entre os carros.
Em outro ponto da cidade, uma menina morena, de cabelos desgrenhados aborda turistas na porta de um hotel, a maioria deles não entende o que ela fala, mas se comovem com a sua expressão, treinada diariamente, sem data para a estréia do espetáculo, esta pequena artista aprendeu a linguagem universal entendida por todos, mas pouco atendida. Algumas turistas cutucam seus parceiros e apontam para a menina, mas ao invés de ajuda, as vezes tiram fotos, fotos que levarão este espetáculo correr o mundo, sem trazer glórias a artista, sem atenuar a sua fome.
A fome é uma constante companheira, a única que não vai embora, nem de dia nem de noite. Os mais novos observam como os meninos maiores andam com algumas garrafas na mão, levando-as narinas com freqüência, inspirando profundamente a “cola” mistura indefinida de químicos, fortes o suficiente para afastar a realidade, mas ela sempre volta.
A menina da porta do hotel teve sorte, uma turista de olhos puxados falou algo rápido e depois tirou do bolso uma nota. Correu para comprar comida, com aquela nota colorida, não conseguiu. Aquela ajuda não tinha valor ali. Cansada, foi até a praça que tinha um lago artificial, com seus dedinhos, dobrou e dobrou o papel até que tinha em sua mão um barquinho, colocou o barquinho na água, flutuou indo lento, depois com o vento soprando mais forte, tombou, e se desmanchou na água, como os seus sonhos.
Texto Antonio Pimenta
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Foto Luiz Braga
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Triste, mas um retrato real.
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Texto muito bonito, apesar de retratar nossa triste realidade.
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Um texto intenso pra uma realidade vívida e constante! Triste…
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