(Algumas das capas do livro)
Vidas Secas, lançado originalmente em 1938, é o romance em que mestre Graciliano — tão meticuloso que chegava a comparecer à gráfica no momento em que o livro entrava no prelo, para checar se a revisão não haveria interferido em seu texto — alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa. O que impulsiona os personagens é a seca, áspera e cruel, e paradoxalmente a ligação telúrica, afetiva, que expõe naqueles seres em retirada, à procura de meios de sobrevivência e um futuro.
Apesar desse sentimento de transbordante solidariedade e compaixão com que a narrativa acompanha a miúda saga do vaqueiro Fabiano e sua gente, o autor contou: “Procurei auscultar a alma do ser rude e quase primitivo que mora na zona mais recuada do sertão… os meus personagens são quase selvagens… pesquisa que os escritores regionalistas não fazem e nem mesmo podem fazer …porque comumente não são familiares com o ambiente que descrevem…Fiz o livrinho sem paisagens, sem diálogos. E sem amor. A minha gente, quase muda, vive numa casa velha de fazenda. As pessoas adultas, preocupadas com o estômago, não tem tempo de abraçar-se. Até a cachorra [Baleia] é uma criatura decente, porque na vizinhança não existem galãs caninos”.
Vidas Secas é o livro em que Graciliano, visto como antipoético e anti-sonhador por excelência, consegue atingir, com o rigor do texto que tanto prezava, um estado maior de poesia.
(Ilustrações de Aldemir Martins)
Resenha
Existem obras que mesmo algum tempo após serem lidas, ficam povoando nossa imaginação. Difícil falar de um livro tão profundo, que carrega em suas linhas todo os dramas e sofrimentos de um povo que há gerações repete seu enredo. A família apresentada no livro, é uma representação de tantas outras. Quando tive contato pela primeira vez com a obra, devorei o livro com a mesma fome que acompanha os personagens Fabiano, Sinhá Vitória, Menino mais velho e o Menino mais novo.
Outro personagem que faz parte da família é Baleia, uma cachorra que apesar do nome, vive em um local seco e é muito magra. Em determinada ocasião salva a família da fome. Tive a impressão de que Baleia apesar de ser um animal, é um dos personagens mais sonhadores do livro. Talvez o único que tenha realmente esperança de encontrar um final feliz. E que final? A vida da família do livro, como de tantas outras, não é linear, e sim circular, passando pelo mesmo ponto repetidas vezes (um dia os meninos “mais velho” e “mais novo” irão repetir esse ciclo realizado pelos pais.
A escrita de Graciliano consegue passar toda a imagem do que etá acontecendo, mesmo sem carregar o texto com palavras desnecessárias, eu li o livro como se estivesse assistindo a um filme (existe uma adaptação para o cinema de 1963). O texto é bem escrito, e a leitura flui rápido, apesar de ter algumas palavras (como nomes de plantas) que são típicas da região do semi-árido, que podem ser desconhecidas para alguns leitores, mas nada que atrapalhe a leitura.
Ensaio fotográfico
No ano de 2008 o fotógrafo Evandro Teixeira percorreu durante 10 dias o sertão nordestino, passando por lugares que serviram de cenário para o romance Vidas Secas e outras obras de Graciliano Ramos, confira abaixo o resultado:

Espero que todos tenham a oportunidade de ler este livro incrível, que é provocativo ao seu modo, e irá causar certo desconforto no leitor. Uma obra que é para ser algo a mais do que enfeite na estante, um convite a reflexão a todos.
Site oficial para encontrar informações sobre o autor:
http://graciliano.com.br/site/
Ainda não leu Vidas Secas de Graciliano Ramos?
Conheça também a Graphic Novel de Vidas Secas
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