Mitsuya e o Inferno

A parede de um corredor do colégio estava cheia de fotos, flores, e papeis de todos os tamanhos com mensagens. Um aluno havia sido encontrado morto em casa com a mãe. Para todas as pessoas, aquele foi um período difícil, menos para Mitsuya.

A menina tinha um primeiro nome comum, mas tinha tanto orgulho da ascendência oriental, que preferia ser chamada somente pelo sobrenome da mãe: Mitsuya. Todo o resto era descartável. Durante os dias que seguiram, um clima de luto por todo o colégio, pela morte do aluno chamado Jorge. Ela não conseguiu sentir pena, era indiferente. Não sentia nada. Quando via alguma menina mais nova chorando e olhando as fotos do menino na parede, pensava que era sorte ser seu último ano ali.

Durante as aulas, que eram sempre desinteressantes, passava o tempo rabiscando com uma caneta preta (nunca tinha usado uma caneta azul). Enquanto números eram colocados no quadro, ela colocava desenhos de pessoas escuras, vultos e rabiscos tão fortes que cobriam páginas inteiras. Aquilo não passava de uma projeção das imagens que habitavam a cabeça da menina.

Quando Mitsuya chegou no apartamento após um longo dia de aulas, foi para o quarto. A mãe só voltaria para casa no dia seguinte, era médica e estava cumprindo seu plantão. A menina deitou, olhou para o teto, para as paredes acinzentadas do quarto. Havia roupas pelo chão, papéis e uma confusão de objetos quebrados ou riscados. Dormiu sem sonhos, acordou com a mãe dizendo que ela iria se atrasar para a aula.

Naquele dia não foi para a aula, nem aguentava ver meninas chorosas e medrosas por causa da morte de um menino que nem conheciam. Foi a um sebo, que ficava em uma galeria de lojas pouco frequentada. Olhou várias capas, passando rápido os olhos por capas que eram coloridas demais. Muita coisa estava suja e rasgada, empilhada entre mofo e poeira. Uma das estantes estava torta, embaixo dela tinha um livro. Capa escura de couro. Tentou ler a lombada, mas não havia nada escrito. Fez força para tirar aquele volume, mas a cada sacudida na estante, seus cabelos negros e longos caiam no rosto, mas nada do livro sair.

Um atendente apareceu, perguntou o que ela estava fazendo. Ela apontou para o livro, mas não disse nada. Ele falou que aquele livro não estava à venda, e que ela não iria entender nada mesmo, estava escrito em japonês ou chinês. A curiosidade da menina aumentou, queria aquele livro. Quando o rapaz saiu, fez força na estante, que foi inclinando até que ganhou velocidade e caiu com um barulho muito alto. Ela pegou o livro. Saiu correndo enquanto o homem praguejava, logo estava na praça que ficava em frente. Botou o livro na mochila sem abri-lo.

Passou o dia perambulando, ouvindo músicas com o fone no ouvido. A chuva que começou a cair forçou a ida dela para casa, pegou um ônibus lotado, foi em pé, mas não encarou ninguém. Quando chegou no seu apartamento, a mãe pediu para a filha tirar a roupa molhada, e um cheiro de comida deliciosa vinha da cozinha. Comeram, ficou assistindo tv com a mãe, depois disse que ia estudar. Pegou a mochila e foi para o quarto. Lembrou-se do livro.

Abriu a mochila e tirou aquele volume de capa preta. Não havia nada escrito na capa, apenas as marcas deixadas pelo tempo. O livro parecia ter uns 50 anos, pelo menos. Abriu e começou a folhear. Estava escrito em japonês (pensou que o vendedor do sebo era burro por ter dito que era chinês). Ela mesma não falava japonês, mas reconhecia aqueles caracteres que estavam presentes em muitos dos objetos de sua casa. Na segunda página do livro, escrito em tinta preta e forte encontrou algo que parecia o título 地獄.

Instalou no celular um aplicativo de tradução. Passou a câmera por cima daquelas palavras. Viu após um segundo a tradução em português Inferno. Os olhos da menina brilharam. O livro parecia ter ficado mais interessante…

48cb297dc691262b9a3620df08b634eb

Quer saber como termina essa história? Deixe mensagem nos comentários.

Ainda não leu o que aconteceu com o menino homenageado na parede do colégio?

https://antoniopimentablog.wordpress.com/2018/05/22/nao-aceite-doces-de-estranhos-jorginho/

 

https://www.facebook.com/antoniopimentablog/

https://www.instagram.com/antoniopimenta86/

10 comentários Adicione o seu

  1. Égua, já quero a segunda parte 😀

    Curtido por 1 pessoa

    1. Mal sabe o que aguarda a Mitsuya na segunda parte! Ela poderia ter encarrado essa história antes de abrir o livro…

      Curtir

  2. QUIXOTESCO disse:

    Parabéns pelo texto!! Maldade deixar o complemento de fora! Kkk mas estou aguardando!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Obrigado!! Quando você ler a segunda parte verá que essa semana que poupei a Mitsuya foi para bem dela…

      Curtir

  3. Cade o desfecho? Manda mais!

    Curtido por 1 pessoa

    1. Será que a segunda parte será o desfecho? Sinto que essa história não acabará quando a última linha for escrita…

      Curtir

  4. Martina Gatti disse:

    Essa menina está muito sinistra! Mas manda aí…

    Curtido por 1 pessoa

  5. Igor disse:

    Cadê a segunda parte, mano? Quero ler.

    Curtido por 1 pessoa

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s