O Vampiro de Belém (II)

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Por falar na cidade, não gosto das chuvas, nem sou dado aos banhos de Sol, como vocês bem devem imaginar. Gosto de noites frescas, quando posso andar despercebido, ou quase, já que tenho dificuldade em me adaptar a lojas de departamentos, e hoje em dia a cidade carece de bons alfaiates, principalmente dos que atendam a noite. Poderia ser considerado excêntrico, mas pelo menos me visto bem. Tenho uma dúzia de amigos, não os suporto. Falta de escolha. São meu círculo vampiresco particular, falarei deles outra hora.

Já devem estar se perguntando onde moro, mas se colocasse essa informação no papel, o que impediria vocês de virem a minha porta, implorar por imortalidade, ou explorar meu corpo como curiosidade científica? Porém, posso atestar que anatomicamente sou perfeito, acho. Não sou especialista nesse campo, talvez em pescoços, em pulsos, quando estou entediado. Ao conjunto todo, presto pouca atenção.

Às vezes vou a festas, mas como não apareço em fotografias, acabo sendo esquecido. O que de maneira alguma é um inconveniente, pois assim mantenho minha identidade preservada. Passar 30 anos com o mesmo rosto, na mesma cidade, e ainda assim ninguém notar é um feito e tanto. Quando preciso ser apresentado a alguém não uso meu nome de batismo, esse é outro detalhe que também acaba sendo rapidamente esquecido. Já conheci as mesmas pessoas pela primeira vez, várias vezes. O que me faz sorriso agora.

Se falar de sorriso, chega à hora que tenha que falar dos meus dentes, ou de dois em especial, minhas presas ficam nos caninos, não que isso seja uma regra, pois já vi um vampiro com os as duas presas nos dentes da frente. Inconveniente que deve ser. Quem repara nos dentes dos outros? E se tiverem tempo de reparar nos meus, que diferença isso faria nos últimos minutos de vida?